O objetivo da rede é criar um espaço de
diálogo, aprendizagem e ação, envolvendo comunidades e parceiros, numa
tentativa de pensar soluções para problemas desafiadores que têm ajudado
a perpetuar a desigualdade e a exclusão em diversos locais do mundo. A
Rede por um Futuro Melhor foi lançada durante um fórum internacional,
promovido pelo COEP Nacional e pelo Centro para Inovação Comunitária da
Universidade de Carleton (Canadá), em novembro, no escritório central de
Furnas, no Rio de Janeiro.
Nesta entrevista, a pesquisadora Michelle
Bonatti, da University of Buenos Aires, integrante da BFN, fala da sua
experiência com comunidades, a partir do trabalho que desenvolve com uma
população de catadores de materiais recicláveis em Santa Catarina, no
Sul do país, e de como a interação entre universidades, centros de
pesquisa e comunidades pode fortalecer populações em situação de
vulnerabilidade.
Rede Mobilizadores - A partir de
sua experiência com população de catadores de berbigão da Tapera da
Base, que contribuições você acha que as universidades podem oferecer
para fortalecer populações em condições semelhantes de vulnerabilidade?
R.: Acredito que as
universidades, por um lado, podem revalidar socialmente as demandas das
comunidades, dando “voz” (visibilidade) às questões do desenvolvimento
local, considerando essencialmente a percepção local dos problemas, do
estado de vulnerabilidade em que se encontram.
Por outro lado, existe a possibilidade de
as universidades oferecerem uma perspectiva crítica sobre como se
constroem e se mantêm os problemas locais. Talvez esses dois lados,
quando em diálogo, ajudem no desenvolvimento de um conhecimento coletivo
ou compartilhado entre universidade e comunidade.
Rede Mobilizadores - Como
conciliar ações de desenvolvimento comunitário e a adaptação das
comunidades aos efeitos dos eventos climáticos extremos, como
inundações, secas e vendavais?
R.: Penso que a linha
que diferencia as ações de desenvolvimento e adaptação ao clima é sutil.
De forma geral, a maioria das ações voltadas ao desenvolvimento
comunitário está vinculada ao aumento da capacidade de adaptação às
adversidades climáticas. Em muitos casos, uma ação de adaptação ao clima
como, por exemplo, ações voltadas à melhoria de infraestrutura
(escoamento de águas, pavimentação de ruas, saneamento básico, etc),
saúde pública (postos de saúde, orientações em relação às reações do
organismo frente ao excesso de calor, etc) ou educação (entendimento de
como ocorrem os eventos climáticos, riscos e prevenção), são ações de
desenvolvimento.
Existem muitas ações de adaptação às
mudanças climáticas previstas para o futuro que, se fossem feitas hoje
em dia, impulsionariam o desenvolvimento comunitário independentemente
da materialização dos eventos climáticos previstos. Outra questão
importante é o investimento em ações de educação, que funcionam
sinergicamente nos diferentes desafios sociais, como é a adaptação ao
clima.
Rede Mobilizadores - Como é
atualmente a relação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
com a comunidade? Acredita que esta relação pode ser mais estreita?
R.: A relação com a
comunidade da Tapera tem distintas faces. Por um lado, de alguma forma, a
universidade tem relação direta com a comunidade, uma vez que seu campo
experimental de Ciências Agrárias é vizinho ao espaço habitacional
comunitário.
Por outro lado, dada à falta de espaços
públicos comunitários na Tapera, há também um olhar da universidade
sobre como auxiliar na promoção deste espaço, salvo questões legais
sobre a ocupação de um espaço de uma universidade federal pela
comunidade. Talvez essa questão pudesse ser conflituosa, porém há um
dialogo estabelecido e que acredito que a relação pode ser mais
estreita.
Rede Mobilizadores - Qual a sua expectativa com relação à criação da Better Future Network?
R.: Acredito que a BNF é
a criação de espaços... Espaços no sentido de um campo de ação para as
transformações sociais que buscamos. Isso significa buscar ações
orientadas ao processo de desenvolvimento de trabalho digno, educação
crítica, prevenção de desastres, etc. Acredito que a rede traz a
possibilidade de conformar projetos com ações concretas nas comunidades,
ao mesmo tempo em que permite uma reflexão crítica sobre pontos
positivos e negativos dos processos vinculados a esses projetos, tal
qual propõe [Paulo] Freire como práxis.
Rede Mobilizadores - Qual a
importância da interação com universidades e centros de pesquisa que
atuam com populações em situação de vulnerabilidade em diversos locais
do mundo?
R.: Construir
coletivamente o conhecimento sobre como se constroem os estados de
vulnerabilidade e também buscar a melhoria dessas situações de risco com
estudos e proposição de medidas técnicas e operacionais.
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Via site do COEP
Entrevista para o Eixo de Meio Ambiente, Clima e Vulnerabilidades
Concedida a: Flávia Machado
Editada por: Eliane Araujo
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