A comunicação e o acesso à informação são direitos adquiridos e estão
diretamente ligados à liberdade de expressão. Um vídeo de bolso nada
mais é do que um pequeno filme, realizado através de aparelhos portáteis
e celulares, por pessoas comuns que querem retratar sua realidade,
mostrar sua visão de mundo, ou simplesmente, fazer uma denúncia.
Imaginação, criatividade, expressão, comunicação, crítica. O que mais
cabe num vídeo de bolso? De acordo com Marcelo Valle, fotógrafo e
videodocumentarista do COEP, um vídeo pode ser um instrumento de
participação social e de empoderamento das comunidades, uma maneira
única de ver o mundo e de democratizar o acesso à informação. Nesta
entrevista, ele fala o que é importante saber para dar forma a uma ideia
na cabeça!
Rede Mobilizadores - O que é um Vídeo de Bolso?
R.: Um “vídeo de bolso” é um filme produzido a partir
de tecnologias acessíveis e portáteis, principalmente telefones
celulares que têm câmeras acopladas e que, ao mesmo tempo, permitem
gravar, editar e transmitir o material. Uma característica importante é a
mobilidade dos aparelhos que possibilita que estejam sempre ao alcance
de nossas mãos em qualquer situação. Geralmente, são vídeos curtos, de
pouca duração. Outra característica interessante é a publicação e
circulação desses vídeos na internet. Eles são feitos basicamente para
estarem na rede, o que lhes permite um alcance ilimitado.
Rede Mobilizadores - Quais são os meios e as ferramentas que as pessoas comuns dispõem e que podem ser utilizados para realizar um vídeo caseiro?
R.: Hoje, muitas pessoas têm celulares que filmam ou,
se não têm, provavelmente conhecem alguém que tem um. No entanto, um
filme de bolso não precisa ser feito necessariamente por um celular,
existem também outras possibilidades como câmeras fotográficas que
filmam, filmadoras simples, i-pads, laptops, tablets, entre outros. São
editados de forma simples em um computador e, logo depois, podem ser
disponibilizados na internet. Em resumo, podemos dizer que precisamos de
um aparelho que filme e de um computador com acesso à internet se
quisermos distribuir nosso vídeo de imediato. Mas, o mais importante
mesmo é a imaginação!
Rede Mobilizadores - De que maneira o vídeo pode ser um instrumento de participação e inclusão social?
R.: Essa pergunta é mais complexa e está ligada ao
nosso direito à comunicação. Um “vídeo” na verdade é um filme - uma das
muitas possibilidades de se trabalhar a linguagem audiovisual que é
parte de um processo de comunicação. Usamos essa linguagem para nos
expressarmos de diferentes formas: podemos contar histórias com conteúdo
político, social, cultural, artístico ou simplesmente de
entretenimento. A comunicação e o acesso à informação são direitos
humanos, ligados diretamente à liberdade de expressão.
A inclusão social está ligada à comunicação na medida em que é possível
ampliar e dar voz a todos de forma democrática, fugindo dos
estereótipos e dos preconceitos. Podemos, de certa forma, nos
autorrepresentar.
Rede Mobilizadores - Na maior parte das vezes os problemas
cotidianos das comunidades situadas nas periferias são ignorados pela
grande imprensa. O vídeo ajuda a romper com essa invisibilidade? De que
forma?
R.: Ao nos apropriarmos dessa linguagem (audiovisual)
passamos do papel de consumidores de filmes para o papel de produtores.
Estamos de certa forma ampliando nossos direitos e rompendo a barreira
criada pela grande mídia (televisão, cinema, jornais, rádio) que se
colocam, muitas vezes, como porta-vozes e único caminho para uma suposta
verdade. Através da produção de vídeos, estamos também usando as
imagens e o som para comunicar, expressar, lançar ideias e visões de
mundo, fazer denúncias, mostrar diferentes realidades, incentivar a
participação social.
Portanto, ao se empoderarem e se apossarem do direito de se comunicar,
as comunidades passam a desmascarar o poder e a manipulação da
informação promovida pelos detentores das mídias tradicionais e pelos
poderes instituídos, que as desprezam ou ignoram. Não por acaso, pessoas
de todas as idades, de todos os lugares do mundo, de todos os credos e
classes sociais estão passando a usar imagens e sons para expressar suas
ideias, mostrar diferentes realidades, compartilhar e divulgar maneiras
únicas de ver o mundo. Isso é democratização.
Rede Mobilizadores - O que pode ser mostrado num vídeo de curta duração? Existe um formato adequado para o que se quer mostrar?
R.: Quase tudo pode ser mostrado num vídeo de curta
duração, depende da forma como você vai abordar o assunto. É preciso ser
mais sintético, ou seja, mais objetivo, pois é preciso passar sua
mensagem de forma clara num espaço curto de tempo e isso demanda
criatividade e imaginação. Não existem formatos, mas é preciso ter
consciência do que se quer fazer e ir tomando intimidade com a
linguagem, considerando a parte técnica e reconhecendo os limites
impostos pela tecnologia. Nem tudo é possível, não adianta querer exigir
muito dos aparelhos e fazer uma superprodução cinematográfica, temos
que respeitar os limites impostos pela qualidade da imagem e do som, que
geralmente são ruins.
Rede Mobilizadores - Qual a importância para as comunidades em situação de vulnerabilidade deste tipo de iniciativa?
R.: As comunidades podem lançar sua voz para o mundo,
mostrar seus problemas, fazer denúncias, trocar informações. São
inúmeras possibilidades, porém, o mais importante, é ampliar a
capacidade de comunicação e alcance dessas comunidades. Outro fato
interessante é que um vídeo pode ajudar a despertar o poder de
mobilização das pessoas, pois, ao se verem, acabam se identificando com
uma determinada causa. Podem também trocar informação e soluções!
Rede Mobilizadores - Que tipo de habilidades os cidadãos podem desenvolver aprendendo a fazer um vídeo?
R.: Imaginação, criatividade, expressão, comunicação,
crítica. Aprendem também a fazer escolhas: editar as imagens é, de certa
maneira, fazer escolhas.
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Entrevista para o Eixo de Participação, Direitos e Cidadania.
Concedida à: Flávia Machado
Editada por: Eliane Araujo.
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