Há sete anos alguns
conheceram a luta e o legado de Herbert de Souza, o Betinho: acabar com a fome
e a miséria no Brasil. Betinho sabia que não havia a possibilidade de formação
de uma sociedade justa enquanto existisse a miséria. Era claro para ele que
desenvolvimento social e fome não poderiam coexistir. Mais do que isso, Betinho
acreditava que a desigualdade social era um crime ético, o qual impedia os
avanços do país. Sob os preceitos da participação cidadã e da mobilização
social, ele funda o Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida, que mais
tarde viria a originar a Rede COEP de Mobilização Social.
“A Rede atua no sentido
de ensinar e sensibilizar as pessoas a serem verdadeiramente cidadãos,
solidários, responsáveis socialmente” comenta Diná Bandeira, coordenadora da
Rede na cidade, desde a sua fundação. “Nestes sete anos muitos entraram e
saíram da rede, uns aprenderam a trabalhar em rede, outros nada entenderam, mas
voltam sempre quando precisam, pois aprendemos a articular, integrar e buscar
estratégias para a inclusão social”. Diná relembra, ainda: “O ano de 2013 foi
um ano muito feliz, estamos em véspera de assinar um contrato para execução de
um projeto, que vai mudar a vida de cerca 40 famílias de catadores e artesões
da associação FRAGET, ajudamos a organizar a proposta e a equipe”. Dessa forma
o COEP ajuda pessoas que são excluídas de direitos básicos a conquistar a sua
cidadania, tonando-se atores sociais de fato. É o caso do projeto da associação
FRAGET. Em vias de aprovação, ele irá auxiliar os trabalhadores da associação,
que fazem a separação do resíduo sólido, popularmente chamado de lixo. Esse
processo é de grande importância para a preservação do meio ambiente, pois é
preciso separar o lixo para poder recicla-lo. A associação se organiza como uma
cooperativa, ou seja, todos os ganhos são divididos igualmente e as decisões
são tomadas em reuniões. Com geração de renda, empreendedorismo e
sustentabilidade os trabalhadores da associação (além da reciclagem, há um
grupo de artesãos) transformam suas próprias realidades. O COEP entra somente
como um mobilizador, elaborando projetos e agregando pessoas. Assim amplia-se a
Rede de pessoas mobilizadas, e consequentemente, os mobilizadores se
multiplicam, pois as conexões criadas tendem a criar novas. A rede torna-se um
estimulo à participação social.
O COEP também atua
fortemente no sentido de discutir e atuar em prol da sustentabilidade. No ano
de 2011 realizou um seminário que trouxe a discussão das catástrofes naturais.
Naquele momento, percebeu-se a preocupação com o acirramento dos acidentes
provocados pela natureza. Mais do que isso, percebeu-se que as populações mais
afetadas eram as de menor renda, aqueles socialmente vulneráveis. Então
articulou-se o 1º Seminário
de Mudanças Climáticas e Pobreza na Região Sul, fazendo o questionamento
"Estamos Preparados?". A grande
participação da população da zona rural fez perceber a necessidade de uma
atuação junto à essas comunidades, no sentido de ajudar na sua organização.
Participar
ativamente do processo de construção da sua comunidade é dos maiores exemplos
de exercício de cidadania. Nessas comunidades mais distantes (como a zona rural
pelotense) o poder público-estatal muitas vezes (na maioria delas) não consegue
agir, seja pela distância, seja pelo “esquecimento”. Quando isso acontece, é
necessário que as populações se organizem e tomem para si o dever de gerir sua
comunidade. É que passou a ser feito. Em conversas com a população começaram os
esforços para criar um Núcleo Comunitário da Defesa Civil (NUDEC). Um NUDEC é
um esforço para que a população se envolva na prevenção de acidentes e
catástrofes. Tal esforço é válido, pois além da população conhecer melhor as
regiões, estando mais apta a prevenir os danos, ela normalmente é a primeira a
chegar aos locais atingidos, precisando, portanto, de treinamento para reagir e
atender as possíveis vítimas.
Muitas
reuniões e conversas foram feitas. Além delas, aulas teóricas sobre a história
do voluntariado, da Cruz Vermelha e da Defesa Civil. Aulas práticas sobre
prevenções de incêndio, primeiros socorros e utilização de extintores. “Levamos às comunidades rurais a discussão e sensibilização
sobre mudanças climáticas e importância do envolvimento de agricultores
familiares com os Núcleos Comunitários de Defesa Civil na Zona Rural – NUDEC.
Acabamos assistindo recentemente os NUDEC Rurais oficializados pela Prefeitura.
A comunidade saberá cobrar, pois foi capacitada pelo COEP para acompanhar este
trabalho, que exige o envolvimento da comunidade” afirma Diná. Ela mesma deu
algumas aulas com conceitos sobre mobilização social, participação e controle
social.
Outra área de atuação é
o controle social. O COEP atua no sentido de criar, implementar e fiscalizar
políticas públicas. Sempre percebendo a importância de ampliar o debate,
estando atuante nas instâncias deliberativas e consultivas do poder público, o
COEP realizou seminário sobre democracia e transparência no controle social de
políticas públicas além de trabalhar sempre junto dos conselhos municipais. “Realizamos
o seminário. Foi um debate rico que se traduziu em estratégias para fortalecer
a Lei do acesso à informação e o combate à corrupção. Além disso, propomos uma
nova coordenação ao Conselho Municipal de Direitos da Mulher do Município de
Pelotas. Fomos eleitas para o cargo e logo estabelecemos um plano de ação, um
cronograma de eventos, sugerindo, ainda, ao poder executivo que alterasse da
Lei de criação deste Conselho, visando atualizá-la”.
Para aumentar a Rede,
muitas vezes é necessário ocupar espaços que possibilitem a propagação das
ideias de forma mais rápida. Por isso, os integrantes da Rede produzem e mantém
um programa semanal, na rádio comunitária RádioCom. Todas as quintas-feiras, no
horário das 13h30min, entra no ar a Rede COEP de Mobilização Social. Sempre com
tema da responsabilidade social, são levados ao microfone pessoas da cidade que
atuam em causas sociais. São militantes, ativistas, voluntários, feministas,
ambientalistas, organizações da periferia, associações de bairro, deficientes
físicos, educadores, músicos, poetas e artistas que tem um espaço de expressão
livre, disposto ao diálogo e a troca de ideias.
Dentro das reuniões da
Rede e do Comitê, cultiva-se a cultura de que as ações do COEP não “ajudam” as
pessoas. Sabe-se que aqueles que são atingidos e beneficiados pela Rede tem
todas as condições de serem atores da própria realidade, só precisam saber
disso: “O trabalho do COEP Pelotas é envolvente, nos dá energia e alegria,
advindas do convívio com as pessoas simples, humildes, muitas vezes vulneráveis,
que precisam só e somente só de informação, dos dons que temos para “passar”,
ou seja, dos bens intangíveis que todos podem oferecer” Relata Diná.
Para o ano que virá, a
ideia é dinamizar a rede, utilizando-se das ferramentas de comunicação
disponíveis. Espera-se que mais pessoas conheçam o COEP e que venham a assumir
a coordenação executiva: “Nestes sete anos não conseguimos realizar um rodizio
na coordenação executiva, mas não podemos parar. Precisamos continuar
coordenando e apoiando dezenas de projetos e propostas que promovem políticas
públicas e estratégias para atender os objetivos do milênio, compromisso de
todos nós até 2015. Agradecemos a todos os parceiros, instituições e pessoas
que nos acompanham, e fazem da luta social, como nós, uma missão para a vida”.
Diná finaliza
parafraseando Betinho: “Só a participação social será capaz de mudar o país”.
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